Autonomia da PF: demanda antiga, necessidade mais urgente que nunca

Tania Prado

Há exatos 10 anos, tramita na Câmara a proposta de emenda à Constituição no. 412, para que a Polícia Federal tenha autonomia orçamentária, funcional e administrativa para que a instituição possa cumprir sua missão sem ingerências políticas e sem interferências que inviabilizem sua operação.

A PEC 412, que garantiria à PF a liberdade de gerenciar seus recursos humanos e financeiros, foi apresentada à Câmara em 30 de Setembro de 2009. Desde então, pouco ou quase nada avançou.

E o que observamos ao longo desse período são tentativas de interferência de governos distintos. Por causa dessa subordinação ao Ministério da Justiça, a instituição ficou quase um mês sem emitir passaportes em 2017 por falta de recursos gerados por um contingenciamento no seu orçamento e este ano está racionalizando operações e treinamentos por causa de um novo corte imposto pelo governo federal.

Como se não bastasse, assistimos a tentativas sucessivas dos governantes de controlar e interferir no comando do órgão e até mesmo das superintendências regionais e no próprio funcionamento de uma das instituições mais respeitadas neste país justamente por colocar atrás das grades quadrilhas inteiras que desviaram bilhões de reais dos cofres públicos.

É justamente a independência para investigar quem quer que seja, independente do governo do momento, e sem os riscos de retaliações financeiras, que fez da Polícia Federal um dos maiores símbolos do combate à corrupção no Brasil. Operações como a Lava-Jato colocaram atrás das grades políticos e grandes empresários acusados de operar esquemas de corrupção que saquearam dinheiro do povo.

Nada disso teria acontecido se a instituição tivesse o mínimo de liberdade. Mas para manter esse padrão de produtividade, é preciso garantir a sua autonomia.

A PF é vulnerável e os políticos sabem disso. Levantamento divulgado pela imprensa revelou que o número de operações da instituição caiu no primeiro semestre deste ano e atingiu o menor índice em cinco anos, com 204 ações.

Certamente esse número seria maior se a Polícia Federal não fosse submetida a um corte substancial no orçamento e se pudesse fazer concursos anuais para recompor o quadro de profissionais, que hoje soma um deficit de um terço da corporação.

Garantir a autonomia da Polícia Federal é garantir a continuidade e eficácia no combate ao crime organizado e aos crimes de corrupção que tanto mal trazem para o nosso país.

Agora, mais uma vez, a decisão está nas mãos da Câmara dos Deputados, eleita pelo povo.

Tania Prado, Mestre em Segurança Pública pela Universidade Jean Moulin Lyon 3, na França. Diretora Regional da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal de São Paulo (ADPF-SP) e Presidente da Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (FENADEPOL) e do Sindicato dos Delegados de Polícia Federal do Estado de São Paulo (SINDPF SP).

 
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