Presidente sofre resistência na segurança pública: Administração de Bolsonaro é considerada péssima por 62% dos policiais civis, 49% dos federais e 35% dos PMs

Pesquisa do Instituto Atlas, feita a pedido da Época, mostra que 61% dos policiais civis que votaram em Bolsonaro hoje estão arrependidos. Esse índice chega a 38% entre os federais. Nas Polícias Militares, 71% votaram no Presidente em 2018 e, agora, desse total, 81% dizem que continuam com ele.

A popularidades do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) entre parte dos operadores da segurança pública está despencando. É o que mostra levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Atlas, a pedido da revista Época. Atlas fez a pesquisa para medir o grau de apoio e rejeição a Bolsonaro nas Polícias Civil, Federal e Militar em todo o País. A amostra, segundo a Época, contou com 521 entrevistas, das quais 302 com PMs, 116 com policiais civis e 103 com policiais federais. A coleta online se deu entre 26 de março e 4 de abril de 2021. A margem de erro é de 4%, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%.

Segundo a Época, quando os entrevistados avaliam a administração do governo do presidente Jair Bolsonaro, pelo menos 62% dos policiais civis de todo o Brasil consideram ruim ou péssima a gestão. Para os policiais federais, esse índice é de 49% dos federais, enquanto 35% dos PMs consideram ruim ou péssima.

De acordo com o resultado, os policiais civis foram percentualmente o que menos apoiaram o então candidato do PSL a Presidência, Jair Bolsonaro, nas eleições de 2018, e hoje é a mais crítica. Entre os policiais civis, 53% disseram ter votado em Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018. No entanto, desse total, 61% responderam estar arrependidos.

De acordo com a pesquisa do Atlas/Época, em 2018, 61% dos policiais federais optaram por Bolsonaro. Agora, 38% se mostram arrependimento.

É nas Polícias Militares, entretanto, que Bolsonaro conta com maior apoio. Pelos números da pesquisa, 71% declaram ter escolhido Bolsonaro no segundo turno do pleito de 2018 e, desse total, 81% dizem que continuam hoje contentes com a opção que fizeram. “Meros 17% afirmam ter arrependimentos”, diz a revista.

Ouvido pela Época, o diretor do Atlas, Andrei Roman, disse que a “ rivalidade entre as polícias Civil e Militar é um dos fatores que ajudam a explicar a diferença nas avaliações”. O fato de os policiais militares terem sido uma base sólida para o bolsonarismo, disse Roman, contribui para alienar as outras categorias, principalmente a dos policiais civis.

“O caminho dos civis segue a tendência de queda do Bolsonaro dentro do público mais escolarizado. Em 2018, a maior fortaleza do Bolsonaro era entre os mais ricos e os mais educados. Hoje, a base de apoio dele está migrando cada vez mais para o público com menos anos de educação”, disse Roman, que tem doutorado em ciência política pela Universidade Harvard.

Também ouvido pela Época, o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, professor Renato Sérgio de Lima, sustenta que a diferença de apoio a Jair Bolsonaro entre os setores civil e militar da polícia tem razões sociológicas. O policial militar, segundo Lima, “é recrutado de um estrato diferente da sociedade, mais religioso e conservador”. Essa segmentação levaria a um diferente nível educacional e de costumes:

“Boa parte das polícias civis tem exigido diploma de curso superior nos concursos. Elas não adotam a militarização e têm uma cultura organizacional mais flexível, que permite a discordância política. É um perfil de pessoa diferente do policial militar, que é muito influenciado por uma dimensão evangélica neopentecostal. Isso explica por que as bases policiais militares são mais bolsonaristas”, afirmou Renato Lima.

A revista cita ainda que a crescente animosidade de parte da polícia em relação ao governo Bolsonaro tem também explicações econômicas. A palavra “decepção” é recorrente no discurso de representantes de entidades de classe policiais desde a promulgação no Congresso, em 15 de março de 2021, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial, que estabeleceu uma série de ajustes fiscais como contrapartida para liberar o pagamento do auxílio emergencial.

A PEC, frisa a Época, determinou o congelamento de reajustes salariais a servidores públicos e pode impedir aumentos por até 15 anos, caso as despesas obrigatórias da União ultrapassem 95% do total ou sob decretação de estado de calamidade.

As medidas previstas são obrigatórias para o Governo Federal e facultativas para Estados e Municípios. Mas, se não implementarem as restrições, governos estaduais e municipais não poderão obter garantias da União para fazer empréstimos, nem contrair novas dívidas com outro ente da Federação ou renegociar pagamentos.

Ouvidas pela revista Época, lideranças sindicais das polícias se referem à PEC Emergencial como a gota d’água. “Obviamente ninguém estava exigindo nenhum tipo de reajuste salarial, mas 15 anos de congelamento é totalmente desproporcional”, disse o secretário-geral da União dos Policiais do Brasil (UPB), Marcos Camargo.

A UPB, que congrega 28 entidades da área da segurança pública, como a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) e a Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (Cobrapol), organizou manifestações para criticar o que vê como falta de apoio do governo à defesa de suas demandas. Em 17 de março, policiais protestaram contra o governo pelas ruas de Brasília numa carreata. No dia 22 de março, organizaram uma hora de paralisação, entre as 15 horas e as 16 horas, em frente a delegacias pelo país. As imagens correram as redes sociais e incomodaram o governo.

“O Vitor Hugo (líder do PSL na Câmara e aliado de Bolsonaro) veio dizer que estávamos pegando muito pesado. Toda vez que tem protesto ele vem falar com a gente. Deveria ser um ministro”, afirmou Tania Prado, presidente da Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (Fenadepol).

O Atlas também ouviu os policiais sobre eleições em 2022. Segundo o instituto, o maior contingente de policiais civis (43%) é a favor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com Bolsonaro em segundo lugar (30%) e Sergio Moro depois (com 12%). Já entre os policiais federais, Bolsonaro aparece na frente, com 46% das intenções de voto, seguido por Lula (34%) e Moro (8%). Na PM, de longe a corporação com mais eleitores, Bolsonaro está numa posição muito mais confortável. Pelo menos 61% dos PMs dizem pretender votar em Bolsonaro em 2022, ante apenas 12% que citam Lula.

 
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